O documentário As cartas psicografadas por Chico Xavier é um filme de conversas com famílias que perderam filhos, procuraram Chico e receberam cartas. Como é receber uma carta psicografada de uma pessoa querida que faleceu? Qual é o sentimento? Como essas famílias identificaram seus filhos? Acreditaram nas mensagens? De que modo este fato mexeu com a vida delas? Como lidam hoje com essa falta? Qual é o sentido da vida? E da morte?
As cartas psicografadas por Chico Xavier não se propõe a questionar essas cartas ou explicar a psicografia. O filme se ocupa da dor da perda um filho e da chance de sobreviver a partir dessa “correspondência”. Uma das personagens, Dona Yolanda Cezar, define esse sentimento com precisão – quando se perde o cônjuge, fica-se viúvo, quando se perde o pai, fica-se órfão, quando se perde filho não há nome.
Diante dessa dor inominável, o filme opta pela simplicidade em sua forma de apresentar o tema – as conversas filmadas são intercaladas pela leitura das cartas e por planos dos espaços de entrevista vazios. O recato formal descarta intervenções estilísticas que possam criar sensacionalismo e interferir no compartilhamento desses sentimentos com o público. É uma proposta de um cinema delicadamente sutil, em que olhares atentos e corações sensíveis são livres para dialogar com filme e chegar as suas próprias construções de sentido.
Selecionado para a mostra competitiva do III Festival Paulínia de Cinema, para o 38o. Festival de Cinema de Gramado e para a 5a. Mostra de Cinema de Ouro Preto, As cartas psicografadas por Chico Xavier está sendo distribuído pela Crisis Produtivas em parceria com a Ciclorama Filmes e tem lançamento nacional previsto para 5 de novembro.
Cristiana Grumbach é diretora de Morro da Conceição (2005). Colaboradora de Eduardo Coutinho, foi assistente de direção e pesquisadora em Santo Forte, Babilônia 2000, Edifício Master, Peões, O Fim e o Princípio e diretora assistente em Jogo de Cena.
O Processo
Em 2004, ouvi o relato de uma pessoa que esteve em Uberaba anos antes e acompanhou uma sessão de psicografia de Chico Xavier. Enquanto ela descrevia a cena, fiquei imaginando como seria receber uma carta. Nesse instante, tive vontade de fazer essa pergunta para as pessoas que as receberam. E pensei no quanto esse fato poderia ter mudado suas vidas. Nessa mesma noite surgiu a idéia de fazer o filme.
Captamos parte dos recursos no final de 2006 através do investimento do BNDES e o projeto recebeu o patrocínio da Eletrobrás em 2007. Começamos a pesquisa em junho daquele ano, que se deu a partir da ajuda valorosa de pessoas ligadas ao tema como o jornalista Marcel Souto Maior, autor de As Vidas de Chico Xavier, e de pessoas importantes do movimento espírita como Dra. Marlene Nobre, Prof. Paulo Rossi Severino, Dona Nena Galves, Dr. Caio Ramaciotti, Dona Yolanda Cezar, entre outros. Essa “rede de conhecimentos” nos levou a São Paulo, onde realizamos as filmagens em setembro e outubro de 2007.
Durante o processo da pesquisa fomos surpreendidos pelo fato de que há muito mais cartas de filhos para os pais do que para outro grau de parentesco ou relacionamento. Parece que Chico privilegiava esse tipo de “correspondência” considerando que essa não é a ordem “natural” da vida e que a dor da perda de um filho é uma dor sem nome. Esse fato foi determinante para que a montagem do filme elegesse essas histórias para serem contadas.
A Diretora
Cristiana Grumbach é diretora, pesquisadora e montadora de cinema e TV. Dirigiu os documentários de longa-metragem Morro da Conceição (2005) e As cartas psicografadas por Chico Xavier (2010). Colaborou com Eduardo Coutinho como assistente de direção e pesquisadora nos longas-metragens Santo Forte (1999), Babilônia 2000 (2001), Edifício Master (2002), Peões (2003), O Fim e o Princípio (2005), e como diretora assistente e pesquisadora em Jogo de Cena (2007). Montou o documentário Rio de Jano (2003), dirigido por Anna Azevedo, Eduardo Souza Lima e Renata Baldi. Dirigiu documentários e programas para TV. Em 2006 e 2008 orientou a Oficina de Desenvolvimento de Roteiros do programa DOCTV.
Um Relato
Esse não é um filme autobiográfico, não participo dele na condição de alguém que viveu história semelhante. Tive perdas de pessoas queridas, como quase todos, mas essas histórias não fazem parte do filme.
Ao mesmo tempo, nesse filme está o encontro com a mãe que me tornei ao longo de sua realização, com ele estou aprendendo esse amoroso ofício. E dedico o filme a minha mãe, alguém que me fez pensar sobre a vida e a morte a cada instante.
Aprendendo a ser mãe, escrevendo uma nova história com a minha mãe que hoje vive em mim e em meus filhos – assim é que este filme me fala. E com ele quero ligar os elos que nos fazem corrente de vida, sem ponto.
Cristiana Grumbach
Patrocínio
BNDES / Eletrobrás
Apoio
GEEM – Grupo Espírita Emmanuel
CEC – Comunhão Espírita Cristã de Uberaba
IDEAL – Grupo de Ideal Espírita André Luiz
CEU – Centro Espírita União
IBNL – Instituição Beneficente Nosso Lar
Fé Editora Jornalística Ltda.
Cineclube Pela Madrugada
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